3 de ago. de 2016

Resenha: Talvez Nunca Mais um País

Título: Talvez Nunca Mais um País
Autor: Flávio P. Oliveira
Editora: Delirium
Páginas: 240
Ano: 2015





Talvez nunca mais um país, partidos políticos, eleições etc. Dois vírus criaram uma nova idade histórica, o primeiro consumiu as reservas de petróleo, o segundo deixou à beira da extinção a humanidade — gigantescas ratazanas devoram os corpos largados nas ruas. No setor 7, na famosíssima Copacabana, Miguel — ex-ráquer, atualmente colecionador e catalogador de objetos artísticos, um apaixonado por rock ‘n’ roll — envelhece (aceitando a sorte de ser um doador universal) sem ter muito o que fazer, além de caminhar na praia em companhia das porcas da senhora Borrêia e conversar com os pivetes na carcaça. Tudo isso mudará um dia, por culpa da inveja alheia, por culpa de uma nova vontade de ser melhor, algo não permitido pelo autoritário governo.


Talvez Nunca Mais um País é uma distopia que se passa na cidade do Rio de Janeiro. O cenário é uma cidade (e mundo) devastados pela perda dos combustíveis fósseis e pela morte de bilhões de pessoas. Ambas as tragédias provocadas por vírus.

Em um futuro cheio de robôs, prolongadores de vida e muita tecnologia, uma doença quase leva a humanidade à extinção: o mal de Hoosbardo. Um vírus que vai comendo a pessoa e pode matar lenta e dolorosamente ou rápida e de forma quase indolor - é preferível a segunda opção.

Com todas essas tragédias, o mundo - e o Rio de Janeiro - foi dividido em setores. A divisão física se deu por conta de outro fator: dentre os sobreviventes existem três tipos de pessoas: os portadores da doença (que podem desenvolver ou não), os imunes e os raríssimos doadores (doadores genéticos - de sangue - que ajuda os doentes a terem uma vida melhor).

Nosso personagem principal é um doador. Mas ninguém sabe, afinal é muito arriscado. Existem doadores pelo mundo que foram trancafiados e são mantidos em coma como bolsas de sangue. E Miguel ama a liberdade dele, ama o Rio de Janeiro e, acima de tudo, ama Mariana.

"Uma vez resolvi testar uma [teoria]. [...] Fiquei trancado no apartamento, sem tomar banho, defecando pelos cantos, deixando a comida apodrecer. Cinco dias na experiência, fedia em demasia, mal respirava, um horror. Suportei como pude, abria a janela, vomitava, o fedor aumentou ao ponto extremo.
Prestes a desistir, alguém bateu na porta.
Era a pessoa que entraria na minha vida, segundo a teoria, por um especial motivo, porém atraída pelo doentio fedor emanando do apartamento."

No decorrer do livro, vemos o amor de Miguel por Mariana e sua vontade de abrir um cinema - os cinemas deixaram de existir pela falta de eletricidade e recursos. Cinema Paradiso. Nesse meio tempo, faz amizade com os pivetes da rua, com um surfista e outros amantes do rock! \m/

O livro foi a primeira distopia que eu li, eu acho. E tenho certeza que entrei pra esse gênero com o pé direito!

Talvez Nunca Mais um País é um livro extremamente criativo e brilhante. Flavio usa elementos do nosso cotidiano, como hábitos e manias, de forma que deixa os personagens ainda mais reais. É como se todos eles estivessem ali na esquina de tão vivos.

A descrição do cenário foi perfeita também. Eu não conheço o Rio de Janeiro, mas me senti transportada para lá num futuro quem sabe não muito distante. Além da criação de ótimos personagens humanos, temos ainda as descrições das máquinas e de seus funcionamentos. E de todas as implicações que uma ação secreta pode levar. Ou seja, Miguel avalia todas as possibilidades antes de fazer uma traquinagem.

São 240 páginas de puro divertimento que eu recomendo a quem gosta do gênero e a quem ainda não conhece.

Os capítulos são curtos e divididos em uma espécie de parágrafos. Além do mais, o autor divide o tempo entre o presente e o passado do personagem principal/narrador, mas que de forma alguma fica confuso ou chato. Como o próprio Flavio diz: é uma mistura de doideiras com organização e acaso.

Vocês vão adorar o Tangerina, a Mariana e o vovô queixando-se da bengala.

Como o autor é também o dono da editora, tenho que elogiar o belíssimo trabalho com o livro: capa, diagramação, qualidade do papel.. Tudo perfeito. Texto bem revisado, sem erros. Um excelente trabalho tanto por fora (parte física) quanto por dentro (conteúdo). Parabéns!

NOTA 5

17 comentários:

  1. Só pelo fato de ser do nosso talentoso senhor Flávio kkkkkkk já se faz um livro bom, mas dês de quando lançou só ouço coisas boas e sinceramente preciso ler kkkkkkk e sua resenha está ótima! ❤

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    1. Só pelo fato de ser nosso talentoso senho Flavio²
      O livro é excelente. Você vai se divertir muito lendo.

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  2. Olá! Gosto de distopias e achei muito interessante a premissa do livro. Faria o mesmo que o protagonista: ficaria calada mantendo em segredo ser um doador...Só para pessoas confiáveis mesmo. Imagina uma situação assim, é de dar medo. Parabéns pela resenha, beijos!

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    1. Deus que nos livre de algo do tipo acontecer. Mas foi divertido ler sobre. haha
      Beijos

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  3. Olá!

    Adoro distopias, mas essa eu não conhecia. Simplesmente amei! Apesar de morar em SP, com certeza vou identificar vários pontos da cidade. Vou pesquisar mais resenhas desse livro porque parece ser bom mesmo!!

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  4. Genteeeee que livro é esse?????
    Como nunca tinha ouvido falar nele antes?
    Fiquei muito curiosa, a premissa é muito boa, estou muito curiosa para saber mais do livro, ainda mais porque amo distopia e nunca li uma nacional hahha.
    Muito feliz em saber que a descrição do cenário é bem feita e que os capitulos são curtos, isso me deixa mais animada.

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    1. Como assim nunca ouviu falar nele antes???? kkkkk
      Ele foi meu primeiro distópico nacional e não me arrependi nenhum pouco!

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  5. Nathalie, distopia é um gênero que costuma me afastar, pois eu fico entediada ou com sono.
    Mas gostei das coisas pelas quais Miguel vai atrás e parece ser tudo muito bem ambientado.
    Acredito que gostaria da história.

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    1. Sério que te afasta? Talvez foram os livros que vc leu que causaram isso. haha
      Mas dê uma chance para este, vale a pena!

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  6. Normalmente eu gosto de distopias, mas essa coisa de um vírus que vai comendo a pessoa acho que é mais do que meu estômago pode aguentar... E isso de meio que transformam os doadores em bolsas de sangue ambulantes ia me enlouquecer... Acho que passo a dica,mesmo que me pareça um ótimo livro.

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    1. Na verdade, ele não faz descrições dos corpos contaminados, então é bem tranquilo. kkkkk
      E os doadores são protegidos pelo governo.
      Mas te entendo. Só espero que um dia vc dê uma oportunidade ao livro.

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  7. Ei, Nathy!
    Eu adoro distopias e simplesmente fico deliciada quando são nacionais e arrasam! É a segunda resenha ultra positiva que leio do livro e só fico mais curiosa! Além de passar no meu RJ problemático e maravilhoso, gostei de saber que ele deu características comuns aos personagens, deixando-os mais 'vivos'. Também achei a capa bem montada (não sabia que ele era o dono da Delirium! =O). Dica Anotada!!

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    1. Oi, Nu. Eu me senti no RJ (nunca fui lá) e foi maravilhoso. Claro que foi um cenário meio (meio?) destruído, cheio de carcaças de carros nas ruas e tal, mas ainda assim foi uma experiência maravilhosa.
      A capa é bem bacana mesmo e o material do livro é excelente! Tudo feito pra que saísse impecável. Não tenho absolutamente nada a me queixar do livro.

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  8. Oi Nat, sua linda, tudo bem?
    Nossa, eu não gostaria de pertencer a nenhum grupo. Imagine o perigo: o portador é uma arma, o sangue dele deve ser cobiçado pelo mal. O doador, pode salvar as vidas, logo, com certeza terá sua liberdade usurpada. E os imunes? Também uma arma, quem conseguir colocar a mão no sangue deles, poderá desenvolver a cura. E a cura é sempre uma arma em mãos gananciosas. Como sobreviver em um mundo como esse? Adoro distopias e esse livro em especial parece ter um diferencial, no tocante ao cinema e ao cenário do Rio. Não vejo a hora de ler. Sua resenha ficou ótima!!!
    Beijinhos,
    Cila.

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    1. Oi, Cila!
      Então, no livro os portadores não são armas porque ninguém se interessa por eles. O foco mesmo são os doadores. Os imunes também ficam quietos no seu canto, ninguém mexe com eles. Mas como, pelo menos no Brasil, os doadores são protegidos pelo governo e tem sua identidade preservada, é mais fácil sobreviver. Mas uma coisa que vc disse é certa: a cura é sempre uma arma em mãos gananciosas. Eu me emocionei muito com a parte do cinema, é bem tocante o sonho do personagem.
      Beijos

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  9. Oi Nat sua linda!
    Eu amo distopia, a primeira que li foi fragmentado do Neil Shulsterman, e é uma alegria ver uma distopia nacional com tanta qualidade como essa do Flávio.
    Já tinha visto ela pelas redes sociais, e realmente parece valer muito à pena.
    Com certeza a dica ta mais que anotada.
    Ahhh distopia nacional também indico "Sombras do medo" da Camila Pelegrini, acho que iria gostar.

    Beijos.

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