Resenha: Vermelho Amargo

Título: Vermelho Amargo
Autor: Bartolomeu Campos de Queirós
Editora: Cosac Naify
Ano: 2011
Páginas: 72

A ausência da mãe na vida de uma criança é muito dolorosa, tanto para ela quanto para quem acompanha os acontecimentos como espectador. Não é nada fácil passar pela situação de se ver sem o amor materno, ou pior, ver alguém tentando substituir o amor que o pai sente pela mãe.

 Vermelho Amargo ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Melhor Livro do Ano em 2012, foi o último escrito pelo mineiro Bartolomeu Campos de Queirós. É uma obra de cunho autobiográfico, o autor retrata a infância sem a mãe de forma poética, uma triste realidade, na qual muitos se identificam. Ele mostra que a dor de perder alguém a quem tanto se ama não é menor para uma criança, simplesmente pelo fato de ser criança.

  Desde a capa, a história começa a ser contada: a cor é em um tom vermelho “áspero”; Até as letras são escritas na cor vermelha, na epígrafe não poderia conter uma frase mais adequada: foi preciso deitar o vermelho sobre papel branco para bem aliviar seu amargor.” Tudo conversa com o título.

   No livro inteiro é narrada a falta que a mãe faz, fazendo com que ela esteja presente em cada estrofe, nos mínimos detalhes. O menino vê a mãe sendo substituída por alguém que não simpatiza com nenhum dos filhos do marido; o pai é um alcoólatra; o irmão mais velho come vidro; o passatempo da irmã maior é bordar ponto cruz, a outra (menor) tem um gato que não mia. Em nenhum momento o autor dá nome aos personagens, estes ficam conhecidos por suas características. Apesar do aspecto melancólico que o livro mostra, não se perde o imaginário. A imaginação leva o garoto para além do que as coisas são, e só assim a sua vida seria menos ociosa: “preencher o dia é demasiadamente penoso se não me ocupo das mentiras”.

   Todo momento ele faz comparações da mãe com a madrasta, até a forma como ambas cortam tomates, antes a mãe “com muito afago, fatiava o tomate em cruz. (...) cortados em cruzes eles se transformavam em pequenas embarcações.” Por outro lado a madrasta cortava o tomate “em fatias, assim finas, capaz de envenenar”. Tudo o que a mãe fazia a madrasta também faz, mas de forma medonha, pelo menos na imaginação dele. Enquanto a mãe é associada a algo bom, delicado, a madrasta é como uma bruxa, sinistra. Faz da mãe o céu e da madrasta o inferno:

“desde sempre imaginei a raiva vestida de vermelho.”
“A casa, sem a mãe, veio a ser um lugar provisório.

 Alguns aspectos lembram o conto dos Irmãos Grimm, Branca de Neve (inclusive citado no próprio livro). Mais uma vez a madrasta é vista como alguém muito má, que quer se ver livre dos filhos do marido e, o fruto vermelho como objeto em que a história se torna conhecida.
  O que mais me encantou na obra é o modo poético, como a estória é narrada, retratando um trauma de infância. Apesar de que Bartolomeu escrevia obras para o público infantil, não vejo vermelho amargo como um livro voltado para esse público.


NOTA: 5


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