Resenha: O Amor nos Tempos do AI-5

Título: O Amor nos Tempos do AI-5
Autor: Ricardo de Moura Farias
Editora: Novo Século
Páginas: 544
Ano: 2015



🔞 Proibido para menores de 18 anos.

Este romance é dedicado à juventude brasileira que não viveu o tempo da ditadura, mas que precisa conhecê-lo para não desejar a volta de tempos tão sombrios. Para "transformar o distante em algo próximo, possível e visível".

A década de 1970 foi assinalada por turbulências internacionais e nacionais. Lá fora, os ecos da Guerra do Vietnã e o recrudescimento da Guerra Fria. Aqui, a repressão política, cujo paradigma maior foi o Ato Institucional n° 5, o AI-5. Nesse cenário, inscreve-se a ficção. Uma trágica e emocionante história amorosa, possível, talvez, por demonstrar que a liberdade na cama era o corolário da falta de liberdade política.Os destinos de um professor universitário e de sua esposa, de uma aluna e de um colega de trabalho se unem, se cruzam, em momentos altamente eróticos, baseados, porém, no diálogo, no respeito, na liberdade. Tudo acontece ao som da música de compositores clássicos e daqueles da MPB que eram cantados e tocados pela juventude.As personagens são ficcionais, porém, nelas se percebe algo familiar, pois traduzem muito da experiência de vida do autor e de muitos que presenciaram aquela tumultuada fase de nossa História. Portanto, alguma semelhança talvez não seja mera coincidência.


Como eram as relações no tempo da ditadura militar? Se você acha que este livro vai contar a história de um casalzinho sem graça inibido pelas proibições da época você está completamente enganado! O livro fala sobre: amor. E não aquele amor que prende, mas o amor que deixa livre.

Afonso e Celina são casados há quinze anos, tem dois filhos e se amam muito. São um belíssimo casal. Ambos são professores: Celina de crianças e Afonso leciona história para universitários. Levam uma vida razoavelmente boa para a época: têm carro (um fusca, que era luxo!), casa, empregada e viajam todas as férias para a praia. Eles moram em Minas Gerais, então a viagem é longa.. Hahaha

Em uma das turmas para as quais leciona, Afonso conhece Haydée. Linda, olhos azuis e de personalidade forte, ela logo se apaixona por ele, mesmo sabendo que é um amor proibido. Encantado por ela, Afonso se aproxima cada vez mais da moça e oferece a ela uma oportunidade única: ler uns livros proibidos pelo governo! Como ela não pode levar os livros para casa, pois se for pega cai na chibata e sabe-se lá mais o quê poderia acontecer, ela tem de lê-los na biblioteca de Afonso, em sua casa.

O resultado, acho que vocês já imaginam. Sim, eles se rendem à paixão avassaladora que os consome.

O interessante, principalmente para aquela época, é que Celina descobre, mas só pede uma coisa ao marido: não destrua nosso casamento!

Só que Celina é uma mulher tão maravilhosa e Haydée uma jovem tão espirituosa que elas acabam se tornando amigas!

Enquanto isso, um colega de trabalho de Celina se vê completamente atraído por ela que, mesmo depois de dois filhos, tem um corpo escultural. Ela também se sente atraída por ele e conta tudo para Afonso, que dá o maior apoio para que ela viva esse romance, pedindo apenas o mesmo que ela: não destrua nosso casamento!

Eu confesso que eu não teria a mesma cabeça que eles, mesmo sendo jovem e vivendo no século XXI. É uma coisa que eu não sei se aceitaria; não vou dizer que não aceitaria porque nunca passei na pele. A própria Celina não acreditava que reagiria dessa forma até passar por isso.

Afonso é um cara muito bacana, extremamente respeitador e nenhum pouco machista! Adorei ele.

Já a Haydée representa a juventude feminina de hoje também: jovem, determinada, que sabe o que quer e luta pelos seus ideais.

Não vemos muito da personalidade do Toninho, namorado da Celina. Mas pelo pouco que vi, dá para perceber que ele é um cara de caráter também, pois sempre respeitou as vontades de Celina e faz tudo por ela!

O livro tem uma leitura muito fluida porque a escrita do autor é maravilhosa. Clara, sem enrolação e deliciosa de ler. Eu confesso que quando li que ele (o autor) é professor universitário pensei que tivesse diante de mim um livro com escrita acadêmica, tipo monografia. Ainda bem que não! Hahaha

Sobre o final: eu gostei e não gostei. Não posso falar porquê senão revelaria o que acontece. Mas posso dizer que, como o livro se passa na ditadura militar, tem algo a ver com isso.. Nós temos uma jovem batalhadora e um sistema opressor. Dessa parte eu gostei - muito! -, afinal foram as muitas Haydée's do passado que nos proporcionaram o mundo de hoje.

Sobre o livro em geral: é um bom livro! É bom saber como eram as coisas antigamente. Eu ri muito com as gírias, ainda não me acostumei com "bicho". E agradeço por ter nascido em tempos melhores, com mais liberdade (mesmo não conseguindo aceitar muito essa questão dos relacionamentos abertos e das relações extra-conjugais). É um livro que eu considero inapropriado para menores de 18 anos, pois contém muitas cenas de sexo e palavras de baixo calão.

No mais, agradeço ao autor por me proporcionar esta viagem bacana para a década de 70! Foi demais, bicho!

Carpe diem!

Livro recebido em parceria com o autor Ricardo de Moura Farias.


NOTA 4

13 comentários:

  1. Olá... tudo bem??
    Bom eu não curto livros nessa temática... não curto a era da ditadura militar e nem quero que essa época volte sinceramente. Bom o enredo é até interessante ainda mais com a premissa que contou sobre o relacionamento... acho isso um absurdo, mas para uma leitura até que seria bom, mas tendo como enredo a ditadura militar me desanima profundamente... que bom que gostou da leitura... xero!

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    1. Oi, Diana. Mas o livro não mostra muita coisa de violência, não. Rsrsrs
      Eu gosto dessas temáticas mais históricas, mas respeito seu gosto. E sobre relacionamentos abertos eu deixei minha opinião na resenha, não me desce. Kkkkk
      Beijos

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  2. Muito bom, um livro que quebra paradigmas: fala da ditadura mas sem tom panfletário, fala de amor sem ser politicamente correto (afinal é um amor extra conjugal), fala de casamento mas de forma aberta e moderna (pra hoje, imagina pra época em que passa!). Adorei, muito obrigado pela dica.

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    1. Tenho certeza que vc vai gostar. É um livro nacional que retrata bem nosso país. É completamente brasileiro. E como o autor viveu nesse período, todos os fatos contidos no livro são absolutamente confiáveis.

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  3. Oi Nathalie!
    Amei, amei, amei!
    Sou professora de História e me realizo cada vez que vejo um bom livro sobre a Ditadura Militar, esses tempos sombrios precisam mesmo serem lembrados para que parem de desejá-los de volta! Também achei interessante essa questão do casamento aberto, como você, não sei aceitaria na minha relação, mas é bacana ver as pessoas lidando com seus problemas de maneiras diferentes.
    Bjs!

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    1. Como diria minha mãe: cada cabeça é um mundo! Eu tbm gosto muito dessas temáticas mais históricas porque em muitas delas, mesmo a história sendo ficção, há um embasamento real e isso nos traz conhecimento sobre a época.
      Beijos

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  4. Bom, descobrir uma traição e além de “aceitar” pedir ao marido que não destrua o casamento? Oi? E ainda esposa e amante se tornam amigas? Oi novamente? Já vi que não é para mim. Bom parece que o casal tem um relacionamento aberto, muito a frente do tempo já que estamos falando da década de 70. Penso que deve ter muito da ditadura da época na trama como um todo, o que acho interessante por trazer informações para os mais jovens.

    Bjo
    Tânia Bueno

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    1. A justificativa dos personagens é que se há conhecimento e aceitação então não há traição. Eu tbm não aceitaria muito, mas isso é uma questão muito pessoal. Mesmo pra os dias de hoje, o casamento aberto ainda não é muito aceito. Pra mim, por exemplo, se for pra ser aberto eu nem caso. Mas na época na Europa já era comum casamentos abertos. O livro fala isso. E, mesmo não aceitando as relações extra conjugais, o livro me deu uma nova visão do amor, sabe. Além do Carpe Diem, que eu comecei a usar, a questão de não prender o outro. O amor não prende. Rsrsrs
      Beijos.

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  5. Olá!
    Não esperava por esse desenrolar, e confesso que relacionamento aberto não faz meu tipo Hahahahha apesar da história parecer bem interessando pelo contexto da época, não sei se leria!

    Beijokas

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  6. Olha, sinceramente, não leria esse livro. O casamento deles virou mesmo uma relação aberta, com os dois se envolvendo com outras pessoas, e isso não entra na minha cabeça. Não consigo entender esse pedido mútuo de "não destrua nosso casamento" que para mim já estaria destruído numa situação dessas... Além disso, cenas de sexo e palavras de baixo calão não me agradam numa leitura.

    Beijo.

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  7. nossa, confesso que estou há 2 bons anos tentando terminar esse livro. até pra Ouro Preto eu fui e nem sabia que iria passar parte da história por lá kkkkkkk mas é engraçado, mesmo demorando pra terminar, a história fica fresca na cabeça. acho um livro bom. e melhor saber que, ainda que nossa democracia seja frágil, no momento, é bem melhor do que uma ditadura. obrigada pela resenha! gosto de ler outras visões. abraços!

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  8. nossa.... Ricardo foi meu professor de História em minha graduação de História. Puxa... que saudade. De longe era o meu professor preferido, meu autor de livros didáticos preferidos. minha inspiração. vou comprar este livro pq quero muito viajar com ele nesta leitura que deve ser fantástica. Parabéns pela entrevista.

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    1. OBS: Eu tbm tenho bilhetinhos dele igual este que vc postou.... que delícia encontrar esta entrevista na internet.

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