Amor e egoísmo. Amor ou egoísmo?


Há algum tempo que eu quero escrever sobre isso, desabafar, mas nunca sabia muito bem por onde começar. Quando uma moça comentou aqui no blog sobre amor e egoísmo me acendeu uma luz.

O que é amor? Sei que é um sentimento inexplicável, que não dá pra definir em palavras, mas sei que ele pode ser - e é - representado em algumas atitudes: o amor está nas pequenas coisas; está na simples presença, mesmo que em silêncio, de alguém querido; está no querer bem. Amar é dar a vida por outra pessoa e é, também, deixar ir.

Eu não estou falando de um amor romântico, apesar de que, neste tipo de amor, as citações acima também se encaixam. Eu estou falando de amor, puro, simples, amor. Amor ao próximo, a um amigo, a um irmão, parente, à mãe.

Até onde vai o amor? Quando deixa de ser amor e passa a ser egoísmo? Sim, porque existe uma linha muito tênue entre o amor e o egoísmo. O egoísmo de querer para si, independente do que custa ao outro. Medo de perder, de sentir dor, saudade; embora ficar possa significar tudo isso para o outro.

Acho que a melhor forma de se fazer entender o que eu quero dizer é através de um exemplo. Pessoal. Vivido. Sentido.

Em janeiro de 2015, descobrimos que meu avô (pai do meu pai) estava doente. Câncer, metástase, terminal. Dá pra imaginar um pouco o choque e o desespero. Meu avô tinha 74 anos.

Depois de um certo momento, talvez depois de passado o choque inicial, estávamos todos preparados para o pior. A qualquer momento ele partiria.

Mas a vida gosta de brincar com a gente.

"A bananeira está madura e pronta para ser colhida."

Qual choque foi - e ainda é - para mim, meu pai, meus irmãos, e toda a minha família quando, no dia 10 de julho, quem partiu foi minha mãe. Sã. Nova. Impecável. Sem absolutamente nenhum problema de saúde. Perfeita.

"A bananeira está madura e pronta para ser colhida."

Frase tão sonhada por meu avô. Ele sonhava com uma bananeira linda, perfeita, cheia de cachos maduros e sadios. E uma voz dizia: a bananeira está madura e pronta para ser colhida.

Achávamos que se tratava dele. Mas não. Como eu me sinto? Saudosa, mas feliz. Feliz por ela. Pois ela estava preparada. Não, minha mãe não era depressiva e não tinha tendências suicidas. Nada disso.

Para quem não tem fé pode parecer besteira. Mas ela não morreu. Ela foi colhida. Recolhida. Por Deus. E ela estava preparada. E desejava isso.

Para quem não tem fé pode parecer besteira. Mas a morte não é o fim. É o começo. O começo de uma vida plena, feliz, inimaginável, perfeita, eterna.

Isso nos consola. Saber que, mais certo que o ar que respiramos, ela está num lugar infinitamente melhor do que o que estamos agora.

Mas o que isso tem a ver com egoísmo? Com amor?

Não seria egoísmo da nossa parte privá-la de tal grandeza (que é estar no Paraíso) apenas para não sentirmos falta? Apenas para termos sua presença física conosco? Amar é deixar ir. Mas ela não se foi. Não completamente. Ela está nos aguardando.

O que eu sinto pode ser descrito como sempre foi nos últimos cinco anos: eu estou longe, em outro lugar, mas sei que em breve nos veremos.

Meu avô piorou. Muito. No dia 4 de março foi sua vez. Não seria egoísmo querer mantê-lo aqui, em vida, para sofrer? A morte é o fim do sofrimento. É o começo de uma nova vida. Plena. Feliz. Inimaginável. Perfeita. Eterna.

Eu os imagino sentados em um banco, no centro de um jardim enorme, lindo, com uma fonte, e animais. Um dia ensolarado, tranquilo, lindo. E eu, de certa forma, os invejo.

Mas os amo. E sei que eles estão melhores, muito melhores do que eu! E seria egoísmo desejar que não estivessem apenar para suprir uma ausência física, que logo passará.

12 comentários:

  1. Nathalie... seu texto é todo amor.
    Há exatos 6 anos, no dia 1º de julho de 2010, vítima de câncer, minha filha primogênita, Raquel, com 34 anos, recem-casada, partiu. Nos deixou depois de seis anos de luta. Isso estou dizendo para te falar que sinto perfeitamente a dor que vocês sentiram quando sua mãe e seu avó os deixaram. Não sei se existe outra vida após esta que vivemos aqui. Se existir, ótimo, né? Mas não sei se existe. De qualquer forma, acredito que nossos entes queridos não morrem nunca. Como disse um personagem de Guimarães Rosa: "as pessoas não morrem, elas ficam encantadas".
    Beijos
    Ricardo

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  2. Oi Nathalie,
    Que texto lindo. Meu pai já faleceu e sei como é a dor, difícil entender que talvez fosse o melhor, mas é algo que nunca estaremos preparados, né?
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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  3. Olá!

    Seu texto é muito lindo. às vezes, não tem jeito mesmo, também perdi um avô que estava bem doente, mas pelo menos pra mim, foi melhor assim, já que ele sofria muito...

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  4. Oi, Nat!
    Acho que consigo entender bem o que vc propôs. Meu pai faleceu há 3 anos e também foi muito de repente (dormiu e não acordou mais, sem sinal de doença, sem passar por hospitais e exames, do nada). E eu lembro dos primeiros dias depois dos sonhos que tinha, dele preso aqui com a gente. Então eu acordava no meio da noite, pedindo, rezando pra que ele seguisse seja lá pra onde vamos, pq ficar aqui desse jeito não faria bem a ele, não faria bem p gente. O tempo aqui ia ser longo, mas pra ele seria um segundo, nós nos veríamos novamente, claro. Amar muitas vezes é deixar partir, pq ficar vai trazer infelicidade. Lindo texto! bj...

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  5. Sim, é mesmo uma linha tênue que separa o amor do egoísmo. E concordo, não deixar as pessoas irem é puro egoísmo nosso. Também acho que a morte é apenas um novo começo, apesar de ter uma visão diferente da sua sobre como esse novo começo acontece. De qualquer forma, também acredito que reencontraremos as pessoas que amamos, tenho fé que é apenas uma separação temporária.

    Beijo.

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  6. Olá... Nathalie... que texto mais lindo este que trouxeste... também acho que entre o amor e o egoísmo tem uma linha tênue... E as vezes me sinto o cúmulo do egoísmo e as vezes solidária com meus sentimentos... Eu tenho medo da morte... tenho medo do começo e peço a Deus que tire isso do meu coração... porque quero estar preparada para a minha colheita... não é fácil pensar assim... mas é assim que me sinto a maioria das vezes... mas concordo que devemos sim deixar as pessoas irem... e sei que de alguma forma iremos encontrá-las em outro plano talvez esperando tanto quanto nós pelo seu encontro.Xero!

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Oi Nathalie, sua reflexão me fez voltar a janeiro de 2015 quando meu amado pai partiu, mesmo amando-o profundamente e tendo certo medo da morte, penso que devemos sempre pedir a Deus que a vontade Dele prevaleça sobre a nossa e é o que faço, pois quando assumimos o papel de egoísta e pedimos veementemente para a pessoa ficar conosco, inconscientemente prolongamos o sofrimento dela, o nosso e de toda a família e como tenho certeza da vida eterna, nos encontraremos um dia, então isso me deixou muito mais em paz em relação ao meu pai.
    Sinto saudades dele? Sempre, mas aí busco as risadas que dávamos das piadas dele ou de alguma atitude tipo “sem noção”.

    Parabéns pelo texto, minha linda.

    Bjo
    Tânia Bueno

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  9. Olá! Belo texto! Bastante reflexivo, há dois anos meu avô partiu, sofri bastante, mas vi que ele está em paz nos braços do Senhor, não está mais sofrendo. mas, alguns tios não aceitam ainda até hoje, minha mãe até pouco tempo pensava assim. É ai que o amor vira egoísmo, as vezes amamos tanto aquela pessoa que não queremos que saia de perto da gente, não importa o que ela esteja sentindo, o nosso egoísmo fala mais alto. Temos que ter a nobreza em saber qual o momento certo de deixar partir, seja para a morte ou para a vida. beijos!

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  10. Oi Nat, sua linda, tudo bem?
    Eu sinto muito por suas perdas. E fico muito feliz por você estar consolada por sua fé. Eu também acredito que a morte é só o começo, aqui é só uma passagem, nosso espírito é eterno. Também gosto de ter essa imagem, de que eles estão em um lindo banco, em um lindo jardim, só os aguardando. Acho que quem ama sempre quer ficar na companhia da pessoa, então, todas as formas de amor, terão um certo quê de egoísmo. Lindo o seu texto!!!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  11. Olá flor, adorei o texto, repleto de sentimentos. Eu ainda não perdi ninguém muito próximo, mas acredito que nunca estamos preparados para tal tristeza.

    Abraços

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  12. Olá Nathalie! Estou sem palavras diante do seu texto! Profundo, realista e recheado de amor! acho que enxergar a vida desta forma é um aprendizado muito significativo. Sua mensagem fez meu dia um pouco mais feliz! Obrigada! =)

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