Autora: Marina Carvalho
Editora: GloboAlt
Páginas: 328
Ano: 2016
"Sabes que nunca me apaixonei, maman, mas se porventura o tivesse feito, seria por alguém como ele?"Cécile Lavigne perdeu todos os que amava e agora está sozinha no mundo. Ela, uma franco-portuguesa que ainda não completou vinte anos, está sendo trazida ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com o mais poderoso dono de terras de Minas Gerais, homem por quem Cécile sente profundo desprezo.
Após desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile ainda precisará fazer mais uma difícil viagem. O trajeto até Minas Gerais lhe reserva provações e surpresas que ela jamais imaginaria. O explorador Fernão, contratado por seu futuro marido para guiá-la na jornada, despertará nela sentimentos contraditórios de repulsa e de desejo.
Antes de enfim consolidar o temido casamento, Cécile descobrirá todos os encantos e perigos que existem nessa nova terra, assim como os que habitam o coração de todos nós. Com o passar dos dias, crescerá dentro dela a coragem para confrontar todas as imposições da sociedade e também o seu próprio destino.
Olá, leitores! O livro da resenha de hoje é um romance de época um pouco (ou muito!) diferente do que estamos acostumados.
Normalmente quando pensamos em romance de época somos transportados à Inglaterra ou à França, não é mesmo? Mas O Amor nos Tempos do Ouro se passa no Brasil, em 1735. Isso mesmo! Um romance de época brasileiro. E, o mais importante de tudo, lindo!
Enquanto eu lia este livro eu pensava: "por que não escrevem mais sobre nosso país, mais romances de época ambientados no Brasil?". Acredito que uma parte da resposta seja porque a nossa história não é bonita, nem um pouco. Banhada a sangue de negros e índios, nossa história é carregada de crueldade, desumanidade, racismo etc.
Mas, apesar da presença dessa feiura no enredo, O Amor nos Tempos do Ouro não deixa de ser uma história linda. De superação, de respeito, de coragem.
Euclides de Andrade, porém, é um homem velho (cujo filho é mais velho que a própria Cécile), sem caráter, cruel e senhor de inúmeros escravos. O casamento, porém, é unicamente por interesse: a herança de Cécile. Como a moça tem menos de 21 anos, a responsabilidade sobre seus bens é do tutor ou do marido, nesse caso, Euclides de Andrade, que garantiu 40% dos bens ao tio, Euzébio.
Resignada e inconformada com seu destino, Cécile tenta de tudo para se livrar do casamento, mas o tio é irredutível. Assim, ela conhece Fernão, um homem de caráter um tanto duvidoso que foi contratado para levá-la em segurança do Rio de Janeiro - morada do tio Euzébio - às Minas Gerais, em Vila Rica, fazenda do futuro noivo.
Fernão é um homem que sempre trabalhou duro a vida toda. Fazendo serviços aqui e ali e trabalhando como minerador, conseguiu juntar uma pequena fortuna e comprar uma propriedade em Vila de Sant'Anna, atual estado de Goiás. Seu último serviço é levar a francesa em segurança para Euclides de Andrade.
Entretanto, ao longo da viagem, apesar dos estranhamentos, Cécile e Fernão se aproximam e ela vê nele sua única chance de escapar do destino triste e cruel que a aguarda. Mas Fernão está comprometido em apenas cumprir seu dever e entregá-la ao velho.
Cécile é uma moça de coração extremamente bondoso. Não vê explicação ou justificativa para os africanos serem tratados da forma como são apenas por sua cor da pele. Para ela são todos iguais, independente das origens. E isso cativa tanto os escravos, principalmente Akin, Hasan e Malikah, como Fernão e nós, leitores.
"[...] Lamentava pela vida daquela gente, que, como ela, não tinha escolhas. Porém, a diferença residia no fato de que Cécile sempre teria um teto para abrigá-la, uma cama com lençóis limpos e macios, comida no prato - várias vezes ao dia - e uma vida confortável, apesar de controlada. E que opções havia para os negros, além de trabalharem horas sem fim, em condições desumanas e sem chances de melhorias?"
p. 125
Entretanto, as atitudes da moça são intoleráveis para Euclides de Andrade, que não hesita em castigá-la sempre que acha necessário.
"- Ora, não fales por Ele. Porque Deus, o meu Deus, é benevolente e justo, não um subterfúgio para justifica as atrocidades cometidas por pessoas como o senhor."
p. 126
Fernão é um homem que teve uma vida difícil e apesar de ter feito inúmeras coisas que não se orgulha, tem um coração bondoso. Quando vê a situação da pobre Cécile, aliado ao convite de Hasan de fugir da fazenda, ele toma uma decisão: fará de tudo para ver seus amigos e a francesa em segurança, nem que dê sua vida para isso.
A jornada dos personagens é longa e exaustiva. Mas cheia de ensinamentos, principalmente para nós, leitores, que a todo tempo aprendemos mais e mais sobre a história do nosso país. O livro foi escrito com base em meses de pesquisa da autora sobre a história do Brasil. Os dialetos, as expressões, as tribos indígenas e os quilombos, tudo isso está presente no livro. E tudo isso faz dele ainda mais incrível.
A narrativa do livro é em terceira pessoa, com exceção dos capítulos que são os escritos de Cécile em seu diário e as cartas de Fernão - estes são escritos em primeira pessoa. A linguagem utilizada, apesar de ser a linguagem da época, não complica em momento algum a leitura ou a compreensão do texto, muito pelo contrário, só enriquece a história e torna tudo ainda mais fiel à verdade.
A capa do livro é linda e a diagramação muito bem feita, com trechos de poesias em cada início de capítulo. A revisão está impecável, não encontrei nenhum erro ortográfico ou de digitação.
Ademais, é um livro maravilhoso que eu recomendo a todos, não só pelo romance e pelas mensagens transmitidas, mas por conter parte da nossa história, por mais triste que seja.
NOTA 5
PARABENS por nos recomendar tão formidável obra! Bom, gostei só de ler a crítica e com certeza gostaria de ler a obra.
ResponderExcluirhttps://mundodaveeh.wordpress.com/.